quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Alma Caiçara




1999... esse foi o ano que, ainda como integrante do Batucada Valvulada, tive o imenso prazer de rearranjar e executar um tema que reflete perfeitamente a obra musical, a sensibilidade e a brasilidade de Luís Perequê, músico de Paraty, que até aquele ano, era desconhecido pra mim.


Como é de praxe no Brasil, os verdadeiros valores e riquezas nacionais ficam relegados a segundo (ou terceiro) plano. Fico feliz em saber que agora, há um reconhecimento maior com o magnifíco trabalho de Luis Perequê, seja pelo fato de ter aberto show do Geraldo Azevedo ou do Luis Melodia, ainda que esse não seja nem de perto, o reconhecimento que lhe é devido nas artes e na cultura.


Então, resolvi escrever aqui a letra de Saracura, música do primeiro disco dele. Vou lembrando a letra, de cabeça mesmo, então me perdoem se estiver algo errado - mas provavelmente é assim mesmo, porque eu ainda lembro como cantá-la. :D


Perequeaçu, violeiro caiçara: obrigado por sua batalha pela arte. Fica aí a singela homenagem.









SARACURA


O que será, que será que saracura cantou?
Cantou mais cedo, bem antes de abrir a flor do jacintal
E eu tive medo porque saracura carijó, só canta quando a flor da planta
Do brejo se apronta e aponta o botão pra florir
Da beira do lago saí preocupado, corri no roçado e perguntei meu pai

- "Pai, eu vi saracura cantar... não vi a jacinta aflorar"

E eu tive medo meu pai.
Me diga o que é que vai acontecer neste sertão
Neste tempo em que grileiro manda mais do que posseiro
E o dinheiro dessa gente mata a força da semente
Que vai germinar o chão, que vai germinar o chão
E desce do nosso suor que se mistura com o pó
Dos frutos tira o "mió" que vai pra mesa do patrão, que vai pra mesa do patrão


Meu pai, lequeando o chapéu, suvaqueou a enxada e com a camisa molhada de suor respondeu:

"Assunta bem meu menino... tu não viu Pedro Jeremias com a folia do Divino?"
Vim franzindo o mal com a prece, vim franzindo o mal com a prece

Que quando saracura canta e não flora a flor da planta
Tem filha da terra santa que vai casar na quermesse, que vai casar na quermesse

Eu vi Manelzinho alegre, cantando por essas bandas
E vinha até fazendo verso, na florada da varanda
E num verso ele dizia, que ia ter muita folia

Congada, reis e ciranda, congada, reis e ciranda

Vinho quente pau-de-sebo, foguete, missa e leilão
E ele tinha o coração prontinho feito um botão pra entregar em flor na mão
Da filha de Bito Alvêncio, da filha de Bito Alvêncio


Vai ter festa e casamento, neste tempo de ciranda
Porque é tempo de bater congada e dançar ciranda.

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