quarta-feira, 1 de junho de 2011

Resposta ao Ademir Luiz

Bom artigo, bem interessante. Discordo de vários termos, mas isso não o invalida. No entanto não fica claro se o que lhe incomoda é:

1 - A simples preferência pela mídia mundial (sim, mundial) pelo Senna ao Piquet.
2 - O fato do Senna não ser seu piloto preferido e haver uma "paparicação", sob sua ótica.
3 - Que a opinião da mídia não condiz com a verdade.

Senna não era um cara 'bonzinho', prestes a ser beatificado. Era bem mimadinho, por vezes pirracento e irritadiço, por vezes mau perdedor e não sabia, nem de longe, acertar carros como o Piquet (maior acertador da história da F1). Sua obsessão pela vitória era algo que na mídia foi apresentado como perseverança e dedicação (uma forma bonitinha de "embalar o produto Senna" - oq ue não quer dizer que fosse mentira). Por vezes tinha uma certa pedância (como dizer que manobrou o caça da FAB e que estava no comando). Além disso, não é o piloto que tem mais títulos.

Apesar disso tudo, a grande verdade é que por diversos fatores (pontuais ou não), de uma forma ou de outra, Senna foi um piloto especial em relação aos outros (e não se fala só bem dele porque está morto, como você insinua): soube trabalhar sua imagem sem que soasse como uma farsa, era extremamente arrojado (tanto quanto Gilles), manteve por muito tempo seu recorde de poles, etc - e na minha opinião, atende mais do que os outros pilotos aos 7 fatores que descrevo abaixo, que para mim, o habilitam como um "difícil" número 1 do automobilismo.

O que contrói um MITO, O MELHOR, numa atividade? Na minha tentativa de racionalizar o 'irracionalizável', apresento a Escala Miguez, formada por 7 fatores mínimos, rs:

A - Importância histórica
B - Importância cronológica
C - Superioridade numérica
D - Feitos isolados
E - Competitividade/Grau de dificuldade no meio de atuação
F - Entrega/determinação/superação
G - Sua representatividade como ser humano/personalidade/ícone

*não necessariamente nessa ordem.

Qualquer um desses fatores isolados é análise burra ou com interesses parciais. Alguém pode dizer que o fator matemático é o mais importante. Se o seu critério for APENAS matemático, Schumacher é o maior piloto de todos os tempos... assim como Friedenreich é o maior jogador da história (e Ronaldo o maior jogador da história em Copas do mundo), e VAMPETA é um jogador "melhor e mais vitorioso" do que ZICO, sem dúvidas, rs


Na minha opinião:
SENNA: A = 9, B = 7, C= 8, D = 10, E = 10, F = 10 e G = 9 (63)
FANGIO: A = 10, B = 10, C = 10, D = 9, E = 6, F = 10 e G = 7 (62)
PIQUET: A = 9, B = 8, C = 8, D = 8, E = 10, F = 10 e G = 8 (61)
SCHUMACHER: A = 9, B = 7, C = 10, D = 6, E = 5, F = 7 e G = 7 (51)
PROST: A = 9, B = 8, C= 9, D = 8, E = 10, F = 9, e G = 9 (62)

Não sou um "Sennista", não sou "viúva" (e isso é termo de 'Piquetista' SIM) - apenas aponto esta predileção pelo Senna. E considero como o principal critério de 'desempate técnico' entre ele, Piquet, Prost, e Fangio, alguns momentos apoteóticos e lampejos geniais na carreira - e pessoalmente sua NECESSIDADE quase doentia de vencer, o arrojo de ser o mais rápido.

Como ainda assim critérios subjetivos não podem mensurados e meticulosamente divididos, prefiro compreender que Stewart, Lauda, Clark, Villeneuve, Senna, Prost, Fangio e Piquet estão num patamar acima de tudo o que os demais puderam fazer no automobilismo. Mansell, Schumacher, Regazoni e Moss num honroso patamar logo abaixo, e Alonso, Hamilton, Vettel e "o resto" no hall de bons pilotos.

Você é parcial quando cita Suzuka 88, e dá muito mais ênfase no erro do Ayrton do que na recuperação dele, e cita outras recuperações a fim de diminuir sua conquista. E faz isto várias vezes, como por exemplo, dizer que Senna já bateu sozinho. Todo grande piloto fez isso (Até nisso Schumacher tem superioridade numérica).

Este e outros detalhes que denotam nitidamente uma "implicância" com o Senna, quase põem a perder o interessante texto que escreveu. Porque não fala da ultrapassagem mais linda da F1, a do Piquet sobre o Senna? Ou que o Piquet inventou os aquecedores de pneus? Ou até mesmo enumer os anos dos campeonatos do alemão? Seria muito mais bonito e digno.

E sim, fiquei muito satisfeito quando ele meteu o carro em cima do Prost, em Suzuka. Não é achar que o Ayrton podia tudo e se fosse outro "seria safadeza". Ali, era o brio de competir, de vencer, a vitória contra as sacanagens do Balestre (que tinha nítida uma predileção pelo Prost) em relação à marcha-ré na chicane de 89 (outra corrida de recuperação FANTÁSTICA). Eu ficaria muito satisfeito, DA MESMA FORMA, se na situação ali fosse o PIQUET a fazer o mesmo - e ele também teria moral e macheza pra fazê-lo. É coisa de HOMEM, coisa que nem o Rubinho, o Nelsinho e nem 90% dos pilotos de hoje em dia são.

Talvez por esse fato, e pela excessiva preocupação com segurança depois de 94 e as bizarrices tecnológicas, a F1 tenha se tornado tão CHATA e desinteressante.

* "Superioridade oceânica de Pelé". Engraçado como não cita os defeitos de Pelé, mas os do Senna revirou bastante... porque não diz que ele dava MT PORRADA nos adversários? Porque não diz que ele tentou passar a mão na cabeça do filho TRAFICANTE dele? Curioso você não citar isso, não é?

Apesar da inigualável importância histórica e das habilidades inquestionáveis, sinceramente, o mito Pelé encantou mesmo na época em que se "amarrava cachorro com linguiça" - sem contar que, como ser humano ou personalidade "não fede nem cheira".

Pra mim o equilíbrio do futebol arte vs competitividade/profissionalismo é ZICO. 826 gols sendo MEIA, maior cobrador de faltas de todos os tempos, inteligente na visão de jogo, talentoso e completo como Pelé - só que numa época onde o futebol já era muito mais pegado, difícil e disputado.

**Maradona? É um Schumacher BEM piorado, já que nem os números tem a seu favor.

Abçs

Thiago Miguez